Recursos Humanos
O cuidado com a saúde mental no ambiente de trabalho - perspectivas
Natália Ribeiro
em
17 de jun. de 2024
Cuidar da saúde mental dos colaboradores no ambiente de trabalho é hoje um dos grandes desafios enfrentados por gestores de Recursos Humanos (RH) e profissionais do Serviço Especializado em Segurança e em Medicina do Trabalho (SESMT). Reconhecida como importante indicador de desempenho da força de trabalho, a saúde mental, quando negligenciada, é vista como uma das principais causas de absenteísmo e presenteísmo nas empresas.
Conceituada como um estado de bem-estar que permite desenvolver as habilidades pessoais para responder aos desafios da vida e contribuir com a comunidade, a saúde mental é o resultado da interação de diversos fatores biopsicossociais. Em outras palavras, ela não depende apenas do aspecto psicológico e emocional do indivíduo, depende também de condições fundamentais, como saúde física, apoio social e condições de vida.
Ao trasladar este conceito para o âmbito profissional, é possível identificar de que maneira a interação de fatores pode desencadear desequilíbrios no bem-estar de um trabalhador. Fatores como: perfil comportamental, relacionamentos com colegas e superiores, condições da própria atividade exercida, grau de responsabilidade envolvido, volume de tarefas, ritmo de trabalho e prazos para cumprir metas são alguns exemplos que ilustram a realidade vivida por grande parte dos trabalhadores.
Nesse contexto, dependendo da combinação de fatores ou do momento de vida que o indivíduo esteja atravessando, o trabalho pode desencadear ou agravar um desequilíbrio mental.
Também conhecidas como transtornos ocupacionais mentais, essas doenças são assim diferenciadas:
Depressão: caracterizada pela perda de interesse ou prazer em atividades normalmente agradáveis, desânimo, tristeza profunda e desmotivação;
Síndrome de burnout: caracterizada pelo esgotamento mental e físico;
Ansiedade generalizada: caracterizada por uma preocupação excessiva e constante sem motivos aparentes;
Transtorno de estresse pós-traumático (TEPT): muito comum em indivíduos que trabalham em situações de risco ou perigo real e que vivenciam eventos traumáticos, como acidentes graves ou situações de violência;
Síndrome do pânico: é um tipo de transtorno de ansiedade, caracterizada por momentos de estresse extremo em que o indivíduo acredita que pode viver algo ruim.
A saúde mental vem ocupando um espaço crescente na agenda do mundo corporativo. Estudos têm apontado estatísticas preocupantes no âmbito das doenças ocupacionais de caráter psicossocial. Uma reportagem recente do Valor Econômico menciona uma pesquisa com dados importantes sobre o consumo elevado de antidepressivos entre trabalhadores de diversas empresas no Brasil.
Isso confirma a gravidade do status da saúde mental no âmbito nacional e internacional, dado que o Brasil foi considerado o país com maior prevalência de depressão na América Latina e o segundo com prevalência nas Américas, segundo a Organização Pan-Americana da Saúde e a Organização Mundial da Saúde (OPAS / OMS, 2022).
Em virtude deste cenário, o Governo Federal promulgou, em 27 de março de 2024, a Lei 14.831, que institui o Certificado Empresa Promotora de Saúde Mental. Considerada um marco no âmbito da saúde ocupacional e do bem-estar dos trabalhadores, essa lei, com validade bienal, visa incentivar as organizações a investirem em políticas e práticas voltadas para o cuidado da saúde mental e do bem-estar dos trabalhadores (Agência Senado).
Atualmente, estão disponíveis e facilmente acessíveis modelos de políticas e programas voltados ao cuidado da saúde mental no ambiente de trabalho. Alguns desses modelos provêm de experiências práticas bem-sucedidas e outros de sugestões teóricas. Infelizmente, não existe um protocolo único a seguir. Porém, algumas medidas parecem ser fundamentais e comuns a todo tipo de organização que queira começar a obter bons resultados ao abordar essa questão. Entre elas se destacam:
A conscientização dos gestores do RH e do SESMT sobre a importância de trabalhar de forma integrada e em sinergia. Afinal, para que possam ser tomadas medidas protetivas prévias, esse trabalho conjunto e colaborativo permite acompanhar mais de perto eventos que possam estar desequilibrando o bem-estar dos colaboradores;
A necessidade de difundir uma cultura de apoio mútuo, onde cada colaborador possa perceber-se uma extensão de sua equipe e, com isso, sentir-se mais bem acompanhado, evitando assim, o isolamento (uma condição que aumenta a predisposição no desequilíbrio do bem-estar);
Estabelecer um espaço de encontros periódicos (semanais / quinzenais / mensais), dependendo da necessidade, onde os colaboradores e gestores possam falar abertamente sobre dificuldades enfrentadas na rotina laboral.
Além dessas medidas, a promoção de campanhas de conscientização sobre a saúde mental que estejam bem articuladas e adequadas à realidade da força de trabalho, podem ter um amplo alcance. Afinal, quanto maior o conhecimento que um indivíduo tem sobre uma determinada condição, menor será o estigma associado a ela e maior preparo ele terá para reconhecer seu status. Saber identificar o momento certo para pedir ajuda profissional é determinante para uma boa contenção.
A prática regular de atividade física é uma grande aliada no cuidado da saúde mental. Trabalhadores que podem contar com esse recurso dentro ou fora da empresa, são trabalhadores mais motivados, engajados, resilientes e podem se considerar privilegiados. Afinal, está mais do que comprovado como esse hábito impacta positivamente o estado geral e o bem-estar de um indivíduo.
“Mens sana in corpore sano” (Mente saudável em corpo saudável)
A saúde mental no ambiente de trabalho é um tema complexo. Para que ela seja mais bem compreendida e cuidada, requer um esforço conjunto de profissionais capacitados e colaboradores conscientes de seu papel ativo no processo. Deve ser estabelecida uma comunicação fluida sobre as dificuldades que se apresentam no caminho para que sejam tomadas medidas preventivas e eficazes.